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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Janus e Themis

A mitologia greco-romana, no seu panteão de deidades, é pródiga para ilustrar, até hoje, fatos e fenômenos da vida. Janus, por exemplo, é o Deus que consagra o mês de janeiro, dando-lhe o nome. É um Deus de duas faces, uma que olha o passado, o ano que terminou, e outra que olha o futuro, o porvir. Também em Janus se pode encontrar a metáfora daquele que nutre dois sentimentos, dois interesses, quiçá duas personalidades.

Themis, ao contrário de Janus que olha, não vê. Enquanto Janus mira em duas direções, Themis está vendada. Ela não é cega, somente está vendada, para que na alegoria fique clara a necessidade da balança não pender, senão na determinação imparcial da realização da Justiça.

Vejo que no Brasil, pródigo em entidades fantásticas, tal qual Macunaíma, de Mário de Andrade, ou o Curupira, de Monteiro Lobato, ou no Rio Grande da Salamandra, nasce uma nova deidade, tal qual na mitologia, uma junção de Janus e Themis, quem sabe um centauro dos pampas. Pode o ministro da Justiça ser candidato ao governo do Estado? E, em podendo, pode patrocinar, com a isenção que se deseja, uma investigação contra seu contendor?

Ora, é no mínimo esdrúxula, senão imoral, a postura do ministro da Justiça, chefe da Polícia Federal, quando determina que esta instituição – respeitável - dirija suas energias numa investigação que tem por claro objetivo causar mácula na inatacável imagem do seu rival, mormente quando se dá notícia de possíveis indícios, obtidos sob o sigilo de um inquérito policial (e do segredo de justiça), e são estes “vazados” aos poucos por seus aliados partidários.

É claro que num país onde grassa a impunidade não se deseja que uma instituição policial não realize o que é o seu dever de ofício. O que não pode - e não se deve admitir - é a nuvem de suspeição sobre o agente policial, porque subordinado a interesses políticos. As coisas ultimamente ficaram muito estranhas.

Candidato, não pode sê-lo em sendo ministro da Justiça, porque como Themis a Justiça precisa ser “desinteressada”.

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